08 outubro 2008

Falar por não falar.

Que o escritor é um egocêntrico, já não é novidade. Passa a não existir mais um mundo que possa interferir em si - tudo é sua própria idéia e criação. Mas, acima disso, ele é um preguiçoso (generalização salva como expressão de inconformismo*). Chega o ponto em que ele não quer mais falar de amor, não quer falar de igualdade, de convívio, de declínio, direito ou viés. Vai tudo abaixo, e olhe lá, poderia ser pior e será.

Homens (homens, homens, homens, homens) que não se atreveram - e os que não se atrevem - a remover a bunda da poltrona, e as mãos: essas sempre muito ocupadas escrevendo para que pudessem se desgastar ao serem levantadas em causa dos outros. Homens, burgueses, escolarizados e intelectualóides, muitos querendo discutir liberdade, igualdade e fraternidade - para quem é que eu não sei -, mas nenhum deles se atreveria a sacrificar sua máquina de escrever para lutar por um bem que é da "gente", da ralé. Morrem por suas idéias, por seus livros, por sua honra - jamais por suas ações, por suas virtudes, por seus sacrifícios (sacrifício? Eu? Tá brincando, né?).

Ética biocêntrica e proteção animal é coisa ambientalista-eco-chato ou de mulherzinha-sentimental, não tem qualquer relação com o homem (homem, palavra forte, humanidade dá preguiça), a razão e o convívio social - com o qual eu nem mesmo deveria me importar. Ir pra São Sebastião, pra Taguatinta, Ceilândia, fazer o quê? Ajudar criança analfabeta e vítimas de exploração infantil? Vai fazer outra coisa, larga disso. E vou. Vou viver minha palavra, o resto que se foda.

Com todo (ou nenhum) perdão da palavra, ser um escroto pode não te fazer uma pessoa melhor - mas te inventa um intelectual extraordinário. E quem não quer a vida boa de ficar em casa reclamando do mundo, enquanto ele continua errado lá fora?

E para legitimar mais ainda, inventaram a tal da propriedade intelectual. Pensar agora é produto, que se compra, se importa, se vende e se prende - não tem dinheiro, se vira. E não vale reproduzir, reler ou reinventar - eu que fiz, então é meu. Como se o pensamento fosse único, fechado e exclusivo, não existe interação. Não com quem não pode pagar.

E esse mundo continua assim: restrito aos homens, burgueses, escolarizados e intelectualóides - agora até mesmo com direitos autorais.

* Não que não existam outros escritores ou mulheres.
Isso só não quer dizer que não existam os que são assim - ou que só esses "existam". Credibilidade fica a critério. Sei lá, não quero saber, depois eu penso nisso.
Postado por Anônimo às 16:43

3 comentários:

paulopaniago disse...

você esqueceu de mencionar: os wasps todos, todinhos, ainda disputam entre si a prerrogativa de ter direito a ganhar um nobel de literatura.

quanto ácido, dona cynthia...

algo que se possa fazer?

Anônimo disse...

Adorei. Mas me senti meio escroto. Vai ver foi por isso, pelo fato de este texto ter me dito algo.

Provavelmente ele dirá algo a qualquer um que realmente o leia. Com 'realmente ler' eu digo simplesmente ler, sem qualquer um daqueles pensamentos idiotas tipo 'ela está naqueles dias' ou algo assim.

Mas, muito bom!

Por isso que eu acho que você podia voltar a escrever, não pra sentar e só escrever, mas porque as suas palavras podem estimular outras pessoas sabe? Por isso.

Vamos bater um papo depois. =*

Unknown disse...

Há muita coisa que se possa fazer.
Só não me pergunte o quê.

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