22 maio 2009

Esquecer para não lembrar

Logo eu, que nunca duvidei das lembranças, prefiro deixar os momentos passarem. Não me importa mais pensar de quantas cores eu preciso para montar um retrato sem moldura e engavetado. Não me importa por quantas formas e traços passam os lados de um quadrado, se pelos museus as belas artes não são consumadas por inteiro. Não me convence apenas admirar obras estáticas, frias e caladas. Eu queria poder invadir os corredores na surdina e roubar toda aquela admiração pra mim, e quem sabe construir meu próprio museu de lembranças descartáveis, a ser trancado e nunca mais visto. Esquecer tudo e não guardar nada. Não há o que se admirar além de vontades e desperdícios, pregados na parede vazia como a distância de dois palmos entre os olhos fundos e a tinta seca.

Eu sigo em passos sem medida, e vejo passar as pessoas que esquecem. Vejo uma sombra, um nuance sem gosto das coisas que se perdem no esquecimento. Vejo o poder de indigestão de uma quase meia dúzia de letras. Esquecer é uma palavra indigesta. Uma palavra amarga. E é posta no prato como uma outra coisa qualquer, mas no âmbito da garganta ela se prende e suplica por ficar.

Eu não (consigo) quero esquecer. Esquecer está além do que eu posso sentir. O que eu quero é não lembrar.

Guardar tudo o que foi em um porão sem chave, e seguir outros passos.

Mas todos os passos me levam ao último lugar onde eu gostaria de parar: o contentamento.
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22 maio 2009

Esquecer para não lembrar

Logo eu, que nunca duvidei das lembranças, prefiro deixar os momentos passarem. Não me importa mais pensar de quantas cores eu preciso para ...
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18 março 2009

Fala pra mim

Sorri pra mim, meu bem, e me diz como eu devo me sentir
Me fala mais daquele erro inventado, do pecado que nós cometemos
Daquele dia em que o pudor fugiu pela porta dos fundos e o bom senso não quis mais saber da gente
Me fala das loucuras de outro dia, quando rasgamos contratos e lençóis entre nossos corpos
Quando nos esquecemos de quem éramos e o silêncio preencheu a página vazia daquele romance que escrevíamos juntos
Me fala das suas aventuras, das suas revoltas, dos seus segredos mais sujos, das mulheres da sua vida
Quero ouvir suas histórias, suas poesias, sua boca estalando na minha
Quero saber de onde veio esse seu olhar meio malandro na vida, meio cansado do mundo
Me fala das promessas que você não cumpriu, daquele beijo que você nunca me deu
E depois de toda essa tentativa de entendimento
Me conta uma história e me põe pra dormir.



Só não me fala de amor
Não me fala com palavras de mentira
O que eu não quero mais pensar daquele dia
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18 março 2009

Fala pra mim

Sorri pra mim, meu bem, e me diz como eu devo me sentir Me fala mais daquele erro inventado, do pecado que nós cometemos Daquele dia em que ...
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10 fevereiro 2009

Lembrar-se do que nunca existiu

E, como se lembrasse, Clarice escreve. Assim traz à memória um sentimento capaz de se desenhar sozinho. Sentimento que não vive e não morre: apenas se lembra.

Mas viver é um processo contrário. O que acontece, se esquece de tanto lembrar. Coisas supérfluas se tornam os momentos marcantes, e quando não resta mais nada, as unhas enterram tão fundo no corpo que a lembrança se machuca. Se desgasta. Se acaba. Se mata. E não há mais o que lembrar. Se eu não tenho do que lembrar, logo não terei do que escrever.

E algumas palavras não podem ser recicladas.

Percebi: não tenho do que lembrar, apenas do que esquecer. Passa a dor, passa o momento. Até que tudo acaba e sobram restos de verdades.

Mas verdades não são lembranças.
Postado por Anônimo às 19:00 0 comentários
10 fevereiro 2009

Lembrar-se do que nunca existiu

E, como se lembrasse, Clarice escreve. Assim traz à memória um sentimento capaz de se desenhar sozinho. Sentimento que não vive e não morre:...
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