17 janeiro 2012

Mudando para

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17 janeiro 2012

Mudando para

http://www.felicidadeclandestina.com
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10 janeiro 2012

Lembrança perdida

O que de fato rolou entre a gente passou tão rápido quanto o momento em que aperto o interruptor e o tempo que leva pra luz de uma lâmpada fraca chegar até o chão. Mas todo o pensamento, as expectativas, os jogos de olhares e as poucas palavras, com uma simplicidade quase incapaz de abarcar tantos significados juntos, que trocamos num período de três anos foram muito mais do que todo o sentimento pudesse aguentar. Lembranças de coisas que não aconteceram e uma saudade imensa daquilo que não existiu foram a principal fonte que alimentava a minha fome insaciável de você. Era o ápice da paixonite adolescente em que dividia os estudos rotineiros das provas do ensino médio com as horas que passava pensando em você. O seu cheiro em todo lugar que ia, mesmo que estivesse a mil quilômetros de distância. Eram peças que a mente pregava. Não conseguia ver a hora de acabar com isso tudo, não sentir mais nada. Era isso que eu queria: poder me lembrar sem ser invadida por uma angústia enorme por você nunca ter estado de fato ao meu lado, mesmo que sentássemos próximos um do outro em todas as aulas.

Eu achava sinceramente que os anos e a maturidade fossem esclarecer as questões de sentimento. Achava que, até os dezoito anos de idade, não existia amor verdadeiro. Apenas com o passar do tempo que viria uma luz e me diria o que realmente é sentir algo por alguém e que a pouca idade não me dava credibilidade suficiente para entender os relacionamentos. Estava errada, ah, como estava.  A inocência da juventude é justamente o que torna a paixão intensa e verdadeira como nunca viria a acontecer em outra fase da vida. Esbofeteada pela realidade, o que sobram são alguns poucos cacos de um vidro frágil. É possível fazer um remendo aqui e outro ali, mas a peça nunca estará inteira, pois sempre existirão as marcas e as fendas deixadas pela cola que, sem sucesso, finge, em sua transparência, deixar como novo um copo no qual não se pode mais beber: ele vaza. Vaza água, vaza vinho, cachaça e o pouco que resta do que tem lá dentro.

Anos depois, quase terminando a faculdade, vejo você sentado no banco. Conversando. O mesmo olhar distante, a mesma expressão de quem não se conecta às pessoas como se conecta a sua própria realidade. O que mudou foi o brilho nos olhos. Não vejo mais um garoto que quer tudo ao mesmo tempo, que se apega de forma estranha, que se afasta tentando se aproximar. Que se aproxima ao se afastar. Foi isso que mudou, o brilho. Não existe mais. Te vejo passar como qualquer outra pessoa que passou na minha vida, como as pessoas que passam apressadas para não perder o ônibus que está prestes a partir, com passam as roupas tentando consertar os amassos da máquina. Te olho, mas não te vejo. Depois de tanta coisa que não aconteceu, não nos cumprimentamos. É como se não existíssimos. Você não existe mais. Eu não existo. Somos dois completos estranhos.

Nunca me arrependi tanto de ter desejado parar de sentir. Pior do que a angústia é o desespero de seguir uma rotina e ver os dias passarem todos em branco. Ou marrom. Sempre achei marrom uma cor feia.
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10 janeiro 2012

Lembrança perdida

O que de fato rolou entre a gente passou tão rápido quanto o momento em que aperto o interruptor e o tempo que leva pra luz de uma lâmpada ...
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20 dezembro 2011

Recorte #1

Dei de cara com ele na saída da faculdade. Estava na parada, com aquela expressão apreensiva como se, ao mesmo tempo em que procurava decifrar os números no topo dos ônibus abatido pela miopia, pensasse em mil e uma maneiras mirabolantes para passar a perna na próxima trouxa que acreditasse naqueles malditos olhos castanhos. Olhando de longe ele não parecia grande coisa. Cabelo desarrumado, estatura mediana, camiseta e simples e a calça jeans surrada combinando com a mochila quase vazia que carregava nas costas. Não levava mais do que o essencial: um caderno com páginas faltando, duas canetas sem tampa e um toco de lápis. Ele nunca assumiu, mas tenho razões para acreditar que de vez em quando ele carrega consigo um livro de bolso do Charles Bukowski. Não é um rapaz muito chegado à leitura, mas volta e meia, quando ninguém está olhando, aproveita a sombra de uma árvore ao lado do Restaurante Universitário e desliga-se do mundo meia hora antes de começar a próxima aula.

Tive receio de me aproximar. O que falaria para ele? Poderia puxar algum assunto qualquer, comentar sobre a demora da chegada do ônibus. Não, não ia colar. Ele sabia que eu raramente andava de ônibus, e mesmo assim não passava naquela parada. Também não queria parecer que estava observando-o desde longe, mesmo porque encontros como aquele raramente eram ocasionais. E era ocasionalmente raro nos encontrarmos por acaso. Quando acontecia, meu nariz torcia e eu seguia na direção oposta como se não tivesse reparado. Era estranho pensar que, apesar dos três anos que passaram, eu continuava incapaz de agir como se o tempo tivesse curado tudo. O que rolou entre a gente estava longe de uma paixão ardente da juventude. O celular já não anunciava suas chamadas meses antes do nosso último beijo e seu nome se distanciava da minha realidade no silêncio que trocávamos nos olhares. Mas sua ausência era insuperável.

Sem que pudesse perceber, meus pensamentos perderam o controle das pernas e eu já podia sentir o cheiro de xampu barato a poucos centímetros de distância. O cabelo mal cortado na altura da nuca cobria por alguns fios a tatuagem do signo de virgem que fizera poucas semanas depois de nos conhecermos. Ele voltou do estúdio tão pálido que pensei que tivesse pegado alguma virose. Tinha pavor de agulhas e uma dificuldade enorme para suportar a dor. Talvez fosse por isso que ele nunca se aproximava demais de alguém: às vezes o que se encontra podre na roupagem da pele vai além do que é capaz de suportar a dor física. A agitação das pessoas que se espremiam umas às outras assim que o ônibus para a rodoviária anunciou sua chegada cortou qualquer oportunidade de contato entre nós. Ele não havia reparado minha presença até subir o primeiro degrau do “baú”, quando, de relance, olhou para trás e seu olhar deu de cara com o meu. Sorriu com simplicidade a acenou antes de ser empurrado para dentro pela multidão que vinha atrás.

E pensar que ele mal completara dezoito anos quando tudo começou.
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20 dezembro 2011

Recorte #1

Dei de cara com ele na saída da faculdade. Estava na parada, com aquela expressão apreensiva como se, ao mesmo tempo em que procurava decifr...
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27 junho 2011

Saudade

Jurei que tinha saudades, essa palavra que não existe. Não existe porque eu não sei o significado. Não sei pensar em uma forma, um sentido ou um sentimento que descreva o que é isso. Saudade talvez devesse deixar de existir, pois o que existe é outra coisa.

Talvez a expectativa do que se queria que fosse uma lembrança. Um esboço mal feito, um rascunho daquilo que se gostaria que tivesse sido a lembrança, o momento. Um reflexo torto na margem do rio, as ondas no fundo da estrada, o calor quente do asfalto. Uma fuga do que não passou, uma vontade daquilo que não aconteceu.

Saudade é a lembrança construída com peças selecionadas.

Saudade não existe. Isso não é saudade, é tormento.

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27 junho 2011

Saudade

Jurei que tinha saudades, essa palavra que não existe. Não existe porque eu não sei o significado. Não sei pensar em uma forma, um sentido o...
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16 junho 2011
E eu pensava que a confusão das ideias misturadas fossem arder um pouco mais fundo, mas percebi, já não é a primeira vez, que a pior dor é aquela que se esconde por baixo das cobertas de uma indiferença que só existe porque o corpo já saiu de controle...
Postado por Anônimo às 02:39 0 comentários
16 junho 2011
E eu pensava que a confusão das ideias misturadas fossem arder um pouco mais fundo, mas percebi, já não é a primeira vez, que a pior dor é a...
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11 junho 2011
Por que quanto mais próximo está, mais distante parece? Chega mais perto um pouquinho, vai...
Postado por Anônimo às 18:18 1 comentários
11 junho 2011
Por que quanto mais próximo está, mais distante parece? Chega mais perto um pouquinho, vai...
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15 outubro 2010

Filosofia de bar

Copo meio cheio ou meio vazio, vai saber. No fim a ressaca das pernas é a mesma, isso que já não se anda tanto há um certo tempo. O pensamento fechado, a conversa vazia, noites a fio sem sequer uma sensação de descanso. A cabeça trabalhando fora de sintonia com as palavras, os gestos, as ações. É uma contradição interna, para que no fundo ninguém saiba o segredo da tranca - que de segredo, convenhamos, não tem nada.

Essa vida torta parece um baile de máscaras. A gente esquece nome, rosto, corpo, pele, roupas, pudor… Não espera amanhecer, pois a primeira chegada da luz é suficiente para nos lembrar que é outro dia. Passa a festa, voltamos pra casa e o dia amanhece como se nada fosse importante o suficiente para ser lembrado.

E a gente se consome todo dia…
Postado por Anônimo às 18:12 0 comentários
15 outubro 2010

Filosofia de bar

Copo meio cheio ou meio vazio, vai saber. No fim a ressaca das pernas é a mesma, isso que já não se anda tanto há um certo tempo. O pensamen...
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Desencontro sem acaso

Fugia com determinação dos olhares dela como uma criança foge do frio debaixo dos lençóis pré-aquecidos pelo conforto da troca de fluídos entre sua mãe e algum outro homem. Depois de uma noite inteira em claro, poderiam ter escolhido outro ambiente para ter aquela conversa. Antes mesmo de tentarem se entender no início daquela manhã, foram interrompidos por pelo menos duas crianças e um mendigo pedindo dinheiro na beira da rodoviária.

Não consultaram as horas. Teria se passado quanto tempo? Duas horas, três, cinco?
Quinze minutos, na verdade. Aquele papo mudo parecia insuportavelmente longo. Trocaram uma centena de palavras sem que uma sequer tivesse sido efetivamente pronunciada.

Com uma súbita coragem e uma firmeza que foi emprestada de outros momentos, encarou-a por alguns segundos antes de, fitando seus olhos, responder ao que ela não tinha dito (e tampouco precisava):

- Você é incapaz de amar alguém.

E subiu no ônibus com muitas respostas, mas nenhuma pergunta.

Mal sabia ele que eram duas crianças, mimadas pelas facilidades que tiveram na sua pacata vidinha classe média do plano piloto. Quando já não havia mais como seus olhares se encontrarem novamente, ela se despiu da indiferença que trouxera consigo desde a noite anterior e, como se tivessem lhe arrancado uma perna, desabou no chão, chorando tão alto que não se ouvia chamando pela própria mãe.
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Desencontro sem acaso

Fugia com determinação dos olhares dela como uma criança foge do frio debaixo dos lençóis pré-aquecidos pelo conforto da troca de fluídos en...
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10 maio 2010
Prefiro idealizar noites de frio. Curtir o buraco e um beijo roubado.
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10 maio 2010
Prefiro idealizar noites de frio. Curtir o buraco e um beijo roubado.
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19 abril 2010

Fragmento II

Ela ignorava qualquer possibilidade de ser feliz. Era como se admitir que o curso das coisas vai bem fosse um empecilho para se sentir confortável consigo mesma. Não importava se na vida dela não existissem desgostos, ela logo tratava de encontrar algum.
Postado por Anônimo às 18:10 0 comentários
19 abril 2010

Fragmento II

Ela ignorava qualquer possibilidade de ser feliz. Era como se admitir que o curso das coisas vai bem fosse um empecilho para se sentir confo...
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