Logo eu, que nunca duvidei das lembranças, prefiro deixar os momentos passarem. Não me importa mais pensar de quantas cores eu preciso para montar um retrato sem moldura e engavetado. Não me importa por quantas formas e traços passam os lados de um quadrado, se pelos museus as belas artes não são consumadas por inteiro. Não me convence apenas admirar obras estáticas, frias e caladas. Eu queria poder invadir os corredores na surdina e roubar toda aquela admiração pra mim, e quem sabe construir meu próprio museu de lembranças descartáveis, a ser trancado e nunca mais visto. Esquecer tudo e não guardar nada. Não há o que se admirar além de vontades e desperdícios, pregados na parede vazia como a distância de dois palmos entre os olhos fundos e a tinta seca.
Eu sigo em passos sem medida, e vejo passar as pessoas que esquecem. Vejo uma sombra, um nuance sem gosto das coisas que se perdem no esquecimento. Vejo o poder de indigestão de uma quase meia dúzia de letras. Esquecer é uma palavra indigesta. Uma palavra amarga. E é posta no prato como uma outra coisa qualquer, mas no âmbito da garganta ela se prende e suplica por ficar.
Eu não (consigo) quero esquecer. Esquecer está além do que eu posso sentir. O que eu quero é não lembrar.
Guardar tudo o que foi em um porão sem chave, e seguir outros passos.
Mas todos os passos me levam ao último lugar onde eu gostaria de parar: o contentamento.
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Deixe a timidade de lado, não posso oferecer um copo de leite com biscoitos, mas vale uma fruta? :)