Que o escritor é um egocêntrico, já não é novidade. Passa a não existir mais um mundo que possa interferir em si - tudo é sua própria idéia e criação. Mas, acima disso, ele é um preguiçoso (generalização salva como expressão de inconformismo
*). Chega o ponto em que ele não quer mais falar de amor, não quer falar de igualdade, de convívio, de declínio, direito ou viés. Vai tudo abaixo, e olhe lá, poderia ser pior e será.
Homens (homens, homens, homens, homens) que não se atreveram - e os que não se atrevem - a remover a bunda da poltrona, e as mãos: essas sempre muito ocupadas escrevendo para que pudessem se desgastar ao serem levantadas em causa dos outros. Homens, burgueses, escolarizados e intelectualóides, muitos querendo discutir liberdade, igualdade e fraternidade - para quem é que eu não sei -, mas nenhum deles se atreveria a sacrificar sua máquina de escrever para lutar por um bem que é da "
gente", da ralé. Morrem por suas idéias, por seus livros, por sua honra - jamais por suas ações, por suas virtudes, por seus sacrifícios (sacrifício? Eu? Tá brincando, né?).
Ética biocêntrica e proteção animal é coisa ambientalista-eco-chato ou de mulherzinha-sentimental, não tem qualquer relação com o homem (
homem, palavra forte,
humanidade dá preguiça), a razão e o convívio social - com o qual eu nem mesmo deveria me importar. Ir pra São Sebastião, pra Taguatinta, Ceilândia, fazer o quê? Ajudar criança analfabeta e vítimas de exploração infantil? Vai fazer outra coisa, larga disso. E vou. Vou viver minha palavra, o resto que se foda.
Com todo (ou nenhum) perdão da palavra, ser um
escroto pode não te fazer uma pessoa melhor - mas te inventa um intelectual extraordinário. E quem não quer a vida boa de ficar em casa reclamando do mundo, enquanto ele continua errado lá fora?
E para legitimar mais ainda, inventaram a tal da propriedade intelectual. Pensar agora é produto, que se compra, se importa, se vende e se prende - não tem dinheiro, se vira. E não vale reproduzir, reler ou reinventar - eu que fiz, então é meu. Como se o pensamento fosse único, fechado e exclusivo, não existe interação. Não com quem não pode pagar.
E esse mundo continua assim: restrito aos homens, burgueses, escolarizados e intelectualóides - agora até mesmo com direitos autorais.
* Não que não existam outros escritores ou mulheres.
Isso só não quer dizer que não existam os que são assim - ou que só esses "existam". Credibilidade fica a critério. Sei lá, não quero saber, depois eu penso nisso.