10 janeiro 2012
Lembrança perdida
O que de fato rolou entre a gente passou tão rápido quanto o momento em que aperto o interruptor e o tempo que leva pra luz de uma lâmpada fraca chegar até o chão. Mas todo o pensamento, as expectativas, os jogos de olhares e as poucas palavras, com uma simplicidade quase incapaz de abarcar tantos significados juntos, que trocamos num período de três anos foram muito mais do que todo o sentimento pudesse aguentar. Lembranças de coisas que não aconteceram e uma saudade imensa daquilo que não existiu foram a principal fonte que alimentava a minha fome insaciável de você. Era o ápice da paixonite adolescente em que dividia os estudos rotineiros das provas do ensino médio com as horas que passava pensando em você. O seu cheiro em todo lugar que ia, mesmo que estivesse a mil quilômetros de distância. Eram peças que a mente pregava. Não conseguia ver a hora de acabar com isso tudo, não sentir mais nada. Era isso que eu queria: poder me lembrar sem ser invadida por uma angústia enorme por você nunca ter estado de fato ao meu lado, mesmo que sentássemos próximos um do outro em todas as aulas.
Eu achava sinceramente que os anos e a maturidade fossem esclarecer as questões de sentimento. Achava que, até os dezoito anos de idade, não existia amor verdadeiro. Apenas com o passar do tempo que viria uma luz e me diria o que realmente é sentir algo por alguém e que a pouca idade não me dava credibilidade suficiente para entender os relacionamentos. Estava errada, ah, como estava. A inocência da juventude é justamente o que torna a paixão intensa e verdadeira como nunca viria a acontecer em outra fase da vida. Esbofeteada pela realidade, o que sobram são alguns poucos cacos de um vidro frágil. É possível fazer um remendo aqui e outro ali, mas a peça nunca estará inteira, pois sempre existirão as marcas e as fendas deixadas pela cola que, sem sucesso, finge, em sua transparência, deixar como novo um copo no qual não se pode mais beber: ele vaza. Vaza água, vaza vinho, cachaça e o pouco que resta do que tem lá dentro.
Anos depois, quase terminando a faculdade, vejo você sentado no banco. Conversando. O mesmo olhar distante, a mesma expressão de quem não se conecta às pessoas como se conecta a sua própria realidade. O que mudou foi o brilho nos olhos. Não vejo mais um garoto que quer tudo ao mesmo tempo, que se apega de forma estranha, que se afasta tentando se aproximar. Que se aproxima ao se afastar. Foi isso que mudou, o brilho. Não existe mais. Te vejo passar como qualquer outra pessoa que passou na minha vida, como as pessoas que passam apressadas para não perder o ônibus que está prestes a partir, com passam as roupas tentando consertar os amassos da máquina. Te olho, mas não te vejo. Depois de tanta coisa que não aconteceu, não nos cumprimentamos. É como se não existíssimos. Você não existe mais. Eu não existo. Somos dois completos estranhos.
Nunca me arrependi tanto de ter desejado parar de sentir. Pior do que a angústia é o desespero de seguir uma rotina e ver os dias passarem todos em branco. Ou marrom. Sempre achei marrom uma cor feia.
Eu achava sinceramente que os anos e a maturidade fossem esclarecer as questões de sentimento. Achava que, até os dezoito anos de idade, não existia amor verdadeiro. Apenas com o passar do tempo que viria uma luz e me diria o que realmente é sentir algo por alguém e que a pouca idade não me dava credibilidade suficiente para entender os relacionamentos. Estava errada, ah, como estava. A inocência da juventude é justamente o que torna a paixão intensa e verdadeira como nunca viria a acontecer em outra fase da vida. Esbofeteada pela realidade, o que sobram são alguns poucos cacos de um vidro frágil. É possível fazer um remendo aqui e outro ali, mas a peça nunca estará inteira, pois sempre existirão as marcas e as fendas deixadas pela cola que, sem sucesso, finge, em sua transparência, deixar como novo um copo no qual não se pode mais beber: ele vaza. Vaza água, vaza vinho, cachaça e o pouco que resta do que tem lá dentro.
Anos depois, quase terminando a faculdade, vejo você sentado no banco. Conversando. O mesmo olhar distante, a mesma expressão de quem não se conecta às pessoas como se conecta a sua própria realidade. O que mudou foi o brilho nos olhos. Não vejo mais um garoto que quer tudo ao mesmo tempo, que se apega de forma estranha, que se afasta tentando se aproximar. Que se aproxima ao se afastar. Foi isso que mudou, o brilho. Não existe mais. Te vejo passar como qualquer outra pessoa que passou na minha vida, como as pessoas que passam apressadas para não perder o ônibus que está prestes a partir, com passam as roupas tentando consertar os amassos da máquina. Te olho, mas não te vejo. Depois de tanta coisa que não aconteceu, não nos cumprimentamos. É como se não existíssimos. Você não existe mais. Eu não existo. Somos dois completos estranhos.
Nunca me arrependi tanto de ter desejado parar de sentir. Pior do que a angústia é o desespero de seguir uma rotina e ver os dias passarem todos em branco. Ou marrom. Sempre achei marrom uma cor feia.
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